Muitos conhecem a toxina botulínica, popularmente chamada de Botox, como um medicamento injetável de uso estético que visa suavizar as rugas e os vincos faciais. O que talvez poucos saibam é que a substância também serve para tratar certas patologias e aliviar sintomas de algumas doenças neurológicas.
Da mesma forma que é aplicada para fins estéticos, o Botox é injetado no local do sintoma ou próximo a ele. De acordo com profissionais consultados pelo site Medical Xpress, os resultados costumam ser rápidos e os benefícios podem durar até três meses.
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Veja, abaixo, cinco casos não estéticos em que o Botox é recomendável:
1. Enxaquecas crônicas
Um dos usos terapêuticos mais estimulantes da toxina botulínica é no tratamento de enxaquecas crônicas. E quem sofre desse mal sabe bem como elas podem ser debilitantes e perturbadoras.
Para tratar desse incômodo, tradicionalmente se faz uso de analgésicos ou betabloqueadores de venda livre (sem necessidade de receita médica).
Iulia Dorneanu, médica neurologista do Rush Oak Park Hospital e doutora em Medicina Osteopática, diz que o tratamento com toxina botulínica é simples e direto. “Após a injeção, a substância é ‘absorvida’ pelos receptores da dor nos músculos do rosto, cabeça e pescoço. Os receptores da dor são neurônios sensoriais que enviam sinais químicos ao cérebro, chamados neurotransmissores, que resultam em sentir dor. O Botox bloqueia os neurotransmissores, o que diminui a intensidade da dor da enxaqueca “, explica.
O paciente recebe várias injeções em torno das áreas do rosto atingidas durante uma crise de enxaqueca. Depois de concluído o tratamento, o alívio da dor pode durar semanas ou, até, meses. As injeções têm intervalo médio de três meses ou mais.
2. Lesões da medula espinhal
Segundo Daniel Bunzol, médico especialista em medicina física e reabilitação do Rush University Medical Center, a toxina botulínica pode ser usada para tratar lesões da medula espinhal traumáticas, inflamatórias ou relacionadas ao câncer.
Como parte do sistema nervoso central, a medula espinhal age como uma estrada que conecta sinais de e para o cérebro aos sistemas nervosos periféricos e aos músculos.
Danos na medula espinhal bloqueiam o caminho entre o cérebro e o corpo, fazendo com que os músculos recebam sinais descontínuos, o que pode causar movimentos musculares irregulares.
Entretanto, a toxina botulínica não tem o poder de curar lesões na medula espinhal, portanto, não se trata de plena recuperação. Mas, pode aliviar a tensão muscular nos braços e pernas que inibe o movimento, fazendo os músculos relaxarem, o que pode ajudar a melhorar os sintomas e a qualidade de vida.
“O objetivo é o equilíbrio”, explica Bunzol. “Se a condição for grave o suficiente, e os médicos não acharem que algumas das opções mais conservadoras, como relaxantes musculares, estão funcionando, então se considera a injeção de toxina botulínica em um ou mais músculos específicos em questão”.
3. Espasticidade
A espasticidade é um distúrbio frequente nas lesões congênitas ou adquiridas do sistema nervoso central (cérebro ou medula espinhal). Com potencial incapacitante, pode gerar dificuldades funcionais, deformidades e dor.
Nesses casos, o Botox pode ser usado para tratar essas contrações musculares anormais, geralmente notadas em pacientes com esclerose múltipla, paralisia cerebral, traumatismo craniano ou cerebral e esclerose lateral amiotrófica (ELA).
Uma pequena quantidade da substância é injetada nos músculos ou grupos de músculos alvo. “Ele bloqueia o sinal que vem dos nervos para os músculos”, explica Bunzol, “o que ajuda a evitar que os músculos tenham espasmos ou enrijecimento”.
4. Hipersalivação (sialorreia)
O médico neurologista do movimento Abhimanyu Mahajan, que também atua no Rush University Medical Center, usa toxina botulínica para tratar, entre outras condições, a hipersalivação, também chamada de sialorréia.
Essa condição é caracterizada pela produção excessiva de saliva. A hipersalivação, muitas vezes, pode estar associada à doença de Parkinson, ELA e paralisia cerebral, entre outras doenças.
“A hipersalivação pode resultar em salivação incontrolável, o que pode causar desconforto extremo e afetar profundamente a qualidade de vida de uma pessoa”, diz Mahajan.
Quando opções tradicionais, como medicamentos anticolinérgicos ou mudanças posturais, não funcionam, a toxina botulínica é injetada nas glândulas salivares, uma dose de cada lado.
“A substância, na quantidade certa, leva a uma produção de saliva mais regular. Esse benefício pode durar até três meses ou, em alguns casos, mais tempo”, afirma o médico.
5. Distonia cervical e condições relacionadas
Outro uso terapêutico que Mahajan faz da toxina botulínica em seus pacientes é para tratar distonia, tanto cervical quanto focal de membro e blefaroespasmo.
A distonia cervical causa contrações musculares involuntárias do pescoço, que podem fazê-lo torcer para um lado e/ou para frente e para trás. Algumas pessoas também podem sentir tremores da cabeça e do pescoço.
O blefaroespasmo causa espasmos oculares ou piscar descontrolado.
“A boa notícia é que essas condições podem ser bem gerenciadas com toxina botulínica em intervalos de alguns meses”, diz Mahajan. “A maioria das pessoas precisa de injeções a cada três meses. O que fazemos é identificar os músculos que estão hiperativos, por meio de um exame clínico cuidadoso ou EMG (eletromiografia), e injetar esses músculos para torná-los normalmente ativos. Isso leva ao alívio dos sintomas, incluindo a dor”.
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Como saber se é o tratamento certo
A toxina botulínica é um dos tratamentos mais promissores disponíveis para dores neurológicas e disfunções musculares.
Qualquer pessoa com uma das condições neurológicas acima citadas, que não obtiveram alívio com os tratamentos mais tradicionais, pode considerar tentar a toxina botulínica. E, em alguns casos, pode ser considerada até sua primeira opção de tratamento.
Como acontece com qualquer tipo de medicamento, a dosagem é a chave: apenas uma pequena quantidade pode ser necessária para proporcionar um alívio tremendo. Mahajan enfatiza que quaisquer efeitos colaterais potenciais das injeções, se presentes, são temporários e desaparecem rapidamente.
Também é muito importante fazer um diagnóstico preciso e identificar corretamente os músculos certos para a injeção. Para condições apropriadas, a toxina botulínica injetada diretamente no músculo afetado ou grupos musculares é um tratamento altamente eficaz.
Portanto, se a dor neurológica ou a espasticidade persistirem após tratamentos mais conservadores, pode ser hora de repensar o que se sabe sobre o Botox.
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