Uma startup britânica desenvolveu uma máscara para vacas que converte metano em água e gás carbônico, prometendo reduções drásticas do impacto do aquecimento global. O gás é produzido pela respiração e flatulência dos animais e, segundo especialistas, contribui com aproximadamente 25% do fenômeno climático conhecido como “efeito estufa”.
A empresa proprietária da tecnologia – a Zelp (sigla em inglês para “Projeto de Zero Emissões de Gado”, em tradução livre) – foi fundada pelos irmãos Francisco e Patricio Norris, filhos de criadores de gado baseados na Argentina.
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Segundo a empresa, a máscara bovina consegue reduzir emissões de metano em até 60%, graças a um sensor que mede o nível do gás nos arrotos das vacas. Quando esse nível fica alto demais, a máscara direciona o gás para um mecanismo interno de oxidação, que contém um catalisador que converte metano (CH4) em gás carbônico (CO2) e água (H2O).
“Nós sabemos que, em todo país, o metano é um dos maiores fatores de avanço do aquecimento global, mas nós descobrimos que ferramentas de redução deste gás na agricultura são mal pesquisadas”, disse Francisco Norris à Wired. “Não tem muita inovação ocorrendo nesse campo”.
Segundo os irmãos, soluções de redução de metano envolvem o uso de aditivos na comida das vacas, de forma que o material ingerido durante a sua alimentação altera os processos de sua flora intestinal. Em outras palavras, ingredientes diferenciados na comida fazem com que o gado “arrote” menos ou solte menos “pum”. Há, porém, entidades que são contra esse tipo de intervenção, uma vez que a produção de metano – quando falando especificamente da criação de gado – é um processo natural.
A solução da Zelp, porém, não mexe na natureza biológica do animal. A máscara se ajusta confortavelmente à cabeça da vaca, graças a uma trava ajustável que se acomoda a diversos tamanhos e variações de raça. Normalmente, ela é aplicada em bezerros logo após o desmame – entre seis e oito meses de vida.
“Cerca de 95% das emissões de metano vindas do gado saem de suas bocas e narizes”, explica Norris. “A tecnologia vestível detecta, captura e oxida metano quando ele é expelido pelos animais. Ela consegue reduzir o potencial do metano no aquecimento global para até 1,5% de seu valor original”.
O interessante é que, talvez no intuito de agradar entidades de preservação, a Zelp parece ter desenvolvido seu produto de forma a respeitar a natureza dos bichos: segundo a empresa, estudos comportamentais foram conduzidos por especialistas da Faculdade Veterinária Real – uma das maiores instituições acadêmicas do setor no Reino Unido -, bem como diversas outras entidades na Inglaterra e Argentina. Todos os analistas afirmaram que o uso da máscara não causa estresse ou qualquer alteração de humor e comportamento nos animais.
Outros parâmetros da máscara também podem ajudar a aprimorar a prática de criação de gado: Norris explicou que, além de emissões de metano, os sensores das máscaras também monitoram atividade alimentar, localização e receptividade sexual (no caso de vacas). “Todos esses fatores podem se combinar de formas diferentes”, disse Norris. “Por exemplo, se você vê a produção de metano baixar mas a atividade alimentar subir, isso pode ter um significado, enquanto o inverso tem outras razões”.
Com isso, a expectativa é a de que as máscaras ajudem a monitorar o quão poluentes – ou não – as fazendas podem ser, oferecendo uma coleta de dados mais abrangente, contemplando uma região inteira ou, quem sabe, um país.
A máscara da Zelp contará com o apoio logístico da Cargill, uma das investidoras da startup, e deve começar a ser vendida para o agronegócio europeu no início de 2022. Entretanto, não há previsão de sua disponibilidade no Brasil.
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